QUEM FOI JESUS?

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QUEM FOI JESUS?

Leonardo Machado

/eo@/eonardomachado.com.br

 

Por certo, ninguém na Terra exerceu maior influência na história, na música, nas artes em geral e, sobretudo, nos corações humanos do que aquela feita por parte de Jesus. Suas palavras doces e profundas calavam profundamente nas almas, deixando-as com marcas indeléveis. Seu influxo moral é sentido até hoje. Os seus braços abertos parecem, até o presente, envolver o mundo todo.

Nada obstante, desde os seus contemporâneos, passando pelos tempos primeiros, até os dias atuais Ele permanece sendo mal interpretadomal compreendido e deturpado por muitos menos avisados no caminho.

No passado, suas palavras foram usadas, em manobras hodiernas, para converter-matar em nome de Deus. Na atualidade, outrossim, não faltam aqueles dispostos a, se não mais matar o corpo, cercear as mentes e a perseguir os corações em seu sacrossanto nome.

Entrementes, fora Ele transformado, por muitas religiões detidas no cárcere da letra, em Deus. Com tal atitude, pois, pretenderam distanciá-la por completo dos seres, dando, igualmente, poderes inatingíveis para aqueles pretensos representantes de suas palavras. Ambicionaram, também, rebaixar a criatura humana, já que, sendo Ele Deus, todos os seus feitos perderiam a possibilidade de ser imitados e de ser realizados pelos outros seres.

Outras tantas doutrinas, a seu tempo, de modo diverso, mas com consequências semelhantes, tornaram-no um mito, ou, mesmo, um ser privilegiado gerado pelo Pai, desde o início, perfeito.

Com reações adversas, porém, de maneira simplista e ingênua, para defenderem o ego humano, logo apareceram aqueloutros que O negaram, desde os seus ensinos até a sua existência.

Nesse sentido, nessa defesa egóica, não é pouco o número, ainda, dos que o mesclaram com as suas próprias imperfeições, frustrações, reações e com os seus próprios medos com o intuito de, possivelmente, atenuar as suas falhas íntimas, tornando-o um ser demasiado imperfeito e humano.

Neste contexto, então, nunca será demais pensar na pergunta "afinal, quem foi Jesus?".

A Doutrina Espírita, tendo como base a razão aclarada pelo sentimento e pela pureza do espírito das palavras do próprio Cristo, vem contribuir sobremaneira na compreensão desta questão.

Em "O Livro dos Espíritos"l, vê-se que Ele é o "mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor". Portanto, "para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra".

Mostrando que não há privilégios nem privilegiados na Criação, o Espiritismo ensina que todos os seres são criados em um mesmo patamar e, através da evolução efetuada nas sucessivas encarnações, conseguem atingir a perfeição relativa da qual é dada aos filhos chegar, já que a abso­luta só a Deus pertence.2

Sendo assim, o espírito que conhecemos aqui neste planeta com o nome de Jesus, igualmente, seguiu esta lei e esta trajetória. Contudo, irmão bem mais velho no concerto da imortalidade, percorreu os seus caminhos em tempos que a precária concepção humana não consegue atingir, por hora.

De tal sorte que, quando esteve encarnado neste orbe, já tinha atin­gido, há muito, esta condição suprema. Eis porque veio ser o modelo, uma vez que este não comporta falhas ou defeitos.

Emmanuel, a seu turno, corroborando as palavras de Kardec e as do sábio filósofo Léon Denis, demonstra que Jesus está há tanto tempo nesta condição angelical que, sendo aquele designado por Deus para inspirar os caminhos do planeta Terra como um todo e dos seus habitantes, deu a sua influência benéfica desde os tempos mais primeiros, sendo um grande mestre de obras na bela construção terrena do engenheiro Deus. De tal maneira que, em todos os tempos, o mundo sofreu o impacto de suas ema­nações de paz, quer seja através de seus enviados, quer seja através de seu amor que, a seu tempo, se fez sentir mais ainda quando viera ser, entre as criaturas, o Messias da fraternidade e do bem.

Com semelhante visão, então, Jesus deixa de ser Deus para ser um ser divinizado na evolução, e, não sendo um privilegiado, passa a ser um caminheiro pelos tempos universais remotos. Não há mais razão, portanto, para negá-lo nem para transferir para Ele imperfeições descabidas, já que, apesar de homem, era e é um ser Crístico, um anjo. Tal ensinamento, de maneira alguma rebaixa o Mestre. Antes, torna-o mais belo diante dos olhos do mundo, pois o coloca em uma posição atingível, num futuro, pelos homens, espíritos, em sua maioria, ainda, tão imperfeitos, quando estes tiverem encontrado, igualmente, o Cristo interno. Desse modo, dignifica, outrossim, a criatura humana repleta de possibilidades.

No entanto, por mais bela que possa parecer a visão dada pelo Espi­ritismo a Jesus, ela não é nova. Isso porque se baseia inteiramente nos Evangelhos escritos pelos apóstolos e baseados nas palavras do meigo Rabi.

Não fosse assim, Jesus, a respeito de sua diferenciação com o Pai, de sua antiguidade e de sua evolução de penetrar nos arcanos divinos, não teria dito aos judeus4: "honro a meu Pai; vós chamais vosso Deus sem o conhecerdes; eu, porém, o conheço; sim, conheço-o e guardo a sua palavra; vosso pai Abraão exultou por ver o meu dia, viu-o e alegrou-se"". Os judeus ficaram estupefatos e redarguiram: "ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?". Jesus, contudo, como que se reportando ao seu passado espiri­tual, respondeu: "em verdade, em verdade vos digo: antes que Abraão exis­tisse, eu sou".

Outrossim, não teria enunciado - "o Pai é maior que eu"5; ou, ainda - "saí do Pai e vim ao mundo; deixo agora o mundo e torno para junto do Pai".6

No tocante à sua missão de governador e de pastor de toda a Terra, não só material como também espiritual, não teria falado: "eu sou o bom Pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço ao Pai; tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco, também a essas devo conduzi-las; darão ouvido à minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor"7. Essas outras ovelhas podem ser tanto interpretadas como sendo os espíritos desencarnados, como aqueloutros de outras religiões. Esse outro aprisco, de igual modo, como sendo tanto o mundo dos espíritos, como as outras regiões do mundo. No futuro, pois, de iluminação e de amor, a Terra material estará tão evoluída que se confundirá com a pátria espiritual, bem como todos os seres humanos estarão na mesma luz da concórdia do amor que a tudo reúne.

E, a respeito da possibilidade de evolução dos espíritos de chegarem um dia a ser como Ele e a fazer trabalhos semelhantes, pois que não há privilégios, não teria enunciado: "não está escrito na vossa lei vós sois deuses?"8. Nem, ainda, teria igualado a sua essência a dos espíritos: "eu sou a luz do mundo9vós sois a luz mundo10". E, nem tão pouco, teria proclamado: "em verdade, em verdade vos digo quem crê em mim fará as obras que eu faço, e fará obras maiores que estas".11

 

Referências:

1 - KARDEC, ALLAN. OLivro dos Espíritos. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, questão 625, p. 308.

2 - DENIS, LÉON. O Grande enigma. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, p. 101.

3 - XAVIER, FRANCISCO CÂNDIDO. Pelo espírito Emmanuel caminho da luz. 29. ed. Rio de Janeiro: FEB.

4 - São João 8: 49, 54, 55, 56, 57 e 58.

5 - São João 14:28.

6 - São João 16:28.

7 - São João 10:14 à 16.

8 - São João 10:34.

9 - São João 8:12.

10 - São Matheus 5:14.

11 - São João 14:12.

O autor é estudante de medicina da UPE, orador e escritor espírita, compositor erudito e trabalhador do Núcleo Espírita Investigadores da Luz, em Recife - PE.

Fonte: Revista Internacional de Espiritismo, de maio de 2007

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